Resumo: O espírito do trabalho consiste em analisar a dialética nos termos apresentados por Hegel, que são a tese, antítese e síntese. A partir deste conceito, o autor estabelece a sua investigação remontando a anterioridade da palavra com fortíssimas ligações com a ideia e a linguagem. Não se trata de uma proposição visando reformular a teoria daquele filósofo, mas instituir uma retrospectiva até ao ponto de partida que originou este legado tão importante para a filosofia contemporânea.
Palavras-chave: Lógica, trindade, metafísica, palavra, linguagem, ideia, dialética, pretexto, contexto, texto, pensamento, reflexão, assimilação, tese, antítese, síntese.
Ao estrear aqui um conceito novo sobre linguagem, ideia e dialética, não seria possível desenvolver nenhuma proposição sem lançar mão da teoria de Hegel, que definitivamente nos deixou um legado bastante substancial graças à profundidade do seu trabalho, pois não houve ao longo da história outro filósofo que discorresse com tanta propriedade e técnica a respeita da dialética, apesar de Karl Marx ter reformulado o seu conceito e fundado o materialismo dialético.
Mas mesmo assim, Hegel um dos fundadores do idealismo alemão da primeira metade do século XIX, foi quem primeiro apresentou um método revolucionário sobre o assunto, capaz de colocar a sua teoria no plano da realidade real, da materialização do conceito, levando-a ao plano da ciência com a ajuda de Marx. Afirmava que a dialética não era apenas um método, mas consistia no sistema filosófico em si, porque não seria possível separar o método do objeto, porque o método era o objeto em movimento.
Todavia, o que vai ser tratado neste artigo não é sobre a investigação de tal conceito que remonta aos filósofos dos tempos da Grécia antiga, como Sócrates, Zenão de Eleia, Platão, e tantos outros filósofos, passando pela idade média, moderna e chegando à contemporaneidade, mas instigar a anterioridade de outros elementos que deram origem à teoria deste filósofo, tais como a ideia e a linguagem, tudo dentro de uma perspectiva de algo ainda maior por trás destas proposições como a lógica da trindade conceitual da metafísica da palavra, objeto da nossa investigação.
Mas em primeiro lugar, é preciso compreender o diálogo como uma ferramenta da expressão humana que é depurada pelo debate, e que jamais teria vida no seio do pensamento filosófico sem o auxílio da linguagem, muito menos sem a ação da ideia, que é a intermediária entre a linguagem e a dialética. Diante desta afirmação, é necessário que se compreenda que o texto é resultado de uma construção dialógica, e que a dialética é o momento da exposição da ideia na forma de diálogo com contrapartida, deixando claro que não se trata de um o elemento formador da ideia, mas apenas a sua consequência, o corpo pragmático de algo que está no campo especulativo ou subjetivo, porque pode existir ideia sem dialética, mas não pode existir dialética sem ideia. Também, pode existir linguagem sem ideia, mas não pode existir ideia sem linguagem. É neste ponto que começa a nossa investigação.
Como o foco neste raciocínio, à primeira vista, tendo a palavra no seu modo de expressão ainda encoberta por questões semânticas, nem sempre é fácil se debruçar sobre o seu verdadeiro significado, sem primeiro conhecer o seu valor pragmático, ou seja, a sua importância perante as ações impostas pela experiência. E de todos os filósofos, somente o Hegel soube de fato identificar as partes inseparáveis da dialética, sem as quais, o seu método não estaria completo, e não estando completo, a palavra estaria morta, porque não haveria semantismo nem pragmática. Eis porque a mistura da filosofia com a linguística, pois sem esta última, não existiria a primeira, é o que denuncia a lógica da trindade conceitual da metafísica da palavra: o pai, o filho e o espírito como o começo de qualquer manifestação.
Segundo Nóbrega (2005), "a dialética hegeliana parte do princípio da identidade de opostos. Ela se compõe de várias unidades, das quais Hegel enumera três: tese, antítese e síntese. A tese poder ser entendida como o momento da afirmação; a antítese é o momento da negação da afirmação, gerando a tensão que origina a síntese, o último momento que corresponde à negação da negação, ou seja, é o resultado da antítese anterior, no qual suspende a oposição entre a tese e a antítese. A síntese representa uma nova realidade marcada pela aparição da Razão Absoluta, da consciência de si, ou, o que dá no mesmo, da autoconsciência. A dialética é o movimento contraditório dentro de unidades que a cada nova etapa nega e supera a etapa anterior, num fluxo contínuo de superação-renovação. Hegel sustenta a ideia de que um princípio não basta em si mesmo, pois carrega em si a contradição e a luta de opostos. Esse processo de superação-renovação é o que Hegel chama de processo de explicitação".
Com esta conceituação, Nóbrega (2005), apresenta a obra de Hegel obedecendo ao fundamento das proposições que estão sendo exaradas neste trabalho, o pai, o filho e o espírito, que é um critério inserido em toda a nomenclatura da existência, por isso também estar presente na intimidade da palavra, porque, o pai é ciência, o filho é filosofia e o espírito é religião, esta última no sentido de depuração do discurso. Assim surge a palavra como expressão universal em conformidade com Almeida (1969), que em sua tradução da Bíblia, nos revela que “o verbo se fez carne” em João, 1.13, ou seja, a palavra se fez carne, e é ai que começa a surgir a linguagem como precursora da dialética,quando ainda foi preciso introduzir um interlocutor, como também nos informa Almeida (1969) com a alegoria de Adão e Eva. Foi neste advento que começou de fato a dialética, em que a oposição, a contradição ou mesmo a contraposição existencial entre os dois sujeitos diferentes, masculino e feminino, proporcionou o surgimento da ciência na expressão figurada “árvore da ciência”, Gên 2.8.
A descoberta mais interessante na teoria de Hegel é a relação da palavra com o seu conteúdo. Quando ele falou de dialética, não se preocupou com conotações exteriores sobre o seu significado, mas antes foi de suma importância procurar saber o que de fato tinha dentro dela. E o que realmente havia dentro da dialética? A resposta é simples: tese, antítese e síntese. Seria impossível existir dialética sem estes três elementos. Ele olhou para dentro da palavra, assim como se abrisse uma caixa de chocolate, por exemplo, e encontrasse dentro dela três produtos. Ou seja, caixas são feitas para acomodar produtos, e não apenas como demonstração de beleza. É dessa maneira que o resultado da nossa investigação sobre a origem desta palavra segundo a lógica da trindade conceitual da metafísica da palavra, vai se proceder.
No entanto, conforme tudo que foi dito sobre a teoria de Hegel, o que será feito agora, é direcionar o nosso olhar, não para o que tem dentro da caixa de chocolate do filósofo, mas para outras duas caixas que a antecederam, que são: a ideia e a linguagem. No que se refere a estas duas caixas, começando de baixo para cima, encontramos primeiro a ideia como o elo fundamental entre a dialética e a linguagem, a qual, em seu interior vamos encontrar três princípios de construção da palavra, que são: o pensamento, a reflexão e a assimilação, pois sem esses três fundamentos não há como se estabelecer o porquê do espírito do vocábulo que o faz dono de uma dimensão própria, que é a dimensão da alma como segunda pessoa da trindade em questão.
E assim, pois, entrando no lado mais íntimo da palavra é que podemos perceber as ferramentas de sua construção, ou seja, os seus três alicerces que tem o pensamento como se fosse a sabedoria do arquiteto; a reflexão, a força da mão de obra, e a assimilação, a beleza do projeto, ao passo que sem um deles, não seria possível levar a termo o objetivo final, ficando evidente que é preciso primeiro pensar para refletir, refletir para assimilar, e assimilar para que seja formada a ideia de algo, isto é, para que dialética possa ser contemplada.
A terceira e última “caixa” do processo é aqui apresentada com o nome de linguagem, que também é formada por três etapas. Esta é a mais importante. E o que vamos encontrar dentro dela? Três peças, como se fossem deliciosas barras de chocolate, cada uma com um nome diferente: pretexto, contexto e texto.
O pretexto, é a justificativa da ideia, pois ninguém começa um diálogo,ou escreve um ensaio, sem um motivo ou uma motivação aparente. Em seguida, aparece o contexto, que é a argumentação da ideia, pois toda ideia precisa ser defendida por uma forte argumentação; e por último, o texto, que é a conceituação da ideia, com características sólidas, fortalecida pela convicção de cada indivíduo no meio social.
Ora, com tudo o que já foi exposto, não é difícil perceber que a lógica da trindade conceitual da metafísica da palavra é o princípio inteligente do conceito, o ponto de partida da extrassensorialidade do conjunto que vai da linguagem à dialética, do pai ao espírito, enfim, todo o entendimento daquilo que o bom senso pode nos revelar acerca do sistema de coisas que envolve a estruturação da pérola que leva o nome de dialética, e que, realmente, não é completo sem antes existir a ideia e a linguagem, que como já foi dito, a trindade que nos revela o pai, que é a ciência; o filho, que é a filosofia, e o espírito que a religião.
Portanto, as linhas que separam a linguagem da ideia, e a ideia da dialética são bastante tênues, ao ponto de se tornarem quase que imaginárias, porque ao se falar de pretexto, contexto e texto, é preciso levar em consideração a ideia, e para se falar em ideia, não se pode deixar de lado a dialética que é o fim do propósito, a manifestação da ciência, da filosofia e da religião, a trindade que remonta ao princípio na pessoa do pai, do filho e do espírito.
Enfim, todas estas considerações remonta a um circulo vicioso, pelo simples motivo do texto já vir pronto desde a linguagem, e após passar pela ideia e dialética ele se materializa como texto propriamente dito, com introdução, desenvolvimento e conclusão, depurado e exposto a um novo debate, pois, como já foi dito, o dialogo ou a escrita, ambos, necessitam de conhecimentos prévios, e a manifestação da linguagem já sugere um texto pronto na esfera da ideia, e quando a dialética o materializa, ele vira texto, que é linguagem, que é ideia, que é dialética, e que é novamente texto, o que não é de causar espanto que a consciência também evolui em círculo, e a lógica da trindade conceitual da metafísica da palavra é, acima de tudo, consciência, inteligência e ciência.
Referências bibliográficas
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NÓBREGA, Francisco Pereira. Compreender Hegel. Petrópolis: Vozes, 2005.
ALMEIDA, João Ferreira. Tradução. A Bíblia Sagrada. Brasília –DF: Sociedade Bíblica do Brasil, 1969.
Bibliografia
Bibliografia
HEGEL, G.W.F. - Fenomenologia do Espírito. Petrópolis-RJ. Vozes. 1992.
MORAES, Alfredo de Oliveira - A Metafísica do Conceito. Porto Alegre RS: EDIPUCRS, 2003.
MORAES, Alfredo de Oliveira - A Metafísica do Conceito. Porto Alegre RS: EDIPUCRS, 2003.
Sobre o autor:
Juahrez Alves é escritor, professor e graduado em Letras pela Universidade Cidade de São Paulo.